Conheci a banda argentina Bestia Bebé de uma maneira inusitada. Estava eu navegando pelo mar de ódio e melancolia chamado twitter quando aparece no meu algoritmo um repost do El Mato a Un Policia Motorizado sobre um show de uma tal Bestia Bebé.
Como Santiago Motorizado e seus amigos tem bom gosto busquei pelo Bestia no Spotify e me encantei já nos primeiros acordes de El Verano. Decidi ouvir o último álbum Vamos a Destruir na íntegra e praticamente já virei fã.
Vi alguns vídeos no Youtube de shows e me empolguei bastante. Estava apenas esperando uma oportunidade de vê-los ao vivo.
Eis que um show em Santiago me pareceu ideal.
Seria num sábado na Sala Metronomo, antigo cinema que virou um espaço para shows e que fica em uma região bem turística da capital do Chile.
Um amigo de um amigo comprou o ingresso (já que o site oficial não permitia a compra por estrangeiros) e reservei três dias no Hotel Ismael, que fica a uns 10 minutos a pé da Sala Metronomo.
Aproveitaríamos para voltar ao Chile e de quebra ver o Bestia Bebé.
Eis que na semana do show eles anunciaram uma mudança de local. Em vez da bem localizada Sala Metronomo eles tocariam no longínquo Centro Cultural Rojas Magallanes, que fica no final de uma linha do metro.
Apesar de ser um lugar simplão, – basicamente um ginásio antigo em que se monta um palco – o Rojas Magallanes tem uma relevância artística para a cidade e já viu shows interessantes (além de eventos de luta livre haha).
No final das contas, nada mais justo que o Bestia Bebé promovesse uma Fiesta en El Barrio no Rojas Magallanes para seus fervorosos fãs chilenos e pelo menos dois brasileiros doidinhos.
O lugar tinha uma pegada tão roots que não dava para comprar bebidas com cartão, só com grana ou com uma transferência que me pareceu ser o PIX deles. Por sorte eu estava com pesos chilenos suficientes para nos garantir algumas latas de budweiser.
Ficamos sentados numa pequena arquibancada vendo o show de abertura da Adelaida, que tem um som meio grunge e meio indie mais pesadinho.
Enquanto o Adelaida estava tocando vimos o povo do Bestia Bebe passando tranquilamente por trás dessa arquibancada e indo para o “camarim”.
Fui comprar mais uma cerveja e vi os quatro fazendo uma pequena reunião numa salinha atrás do bar. Eles fizeram um brinde com um shot de alguma coisa e rumaram para o palco.
Estávamos bem na frente e já nos primeiros segundos de Humo Negro sentimos que o Bestia Bebé é uma puta banda ao vivo. Essa música tem um instrumental que remete ao southern rock e é perfeita para nos colocar no clima.
Na sequência, uma verdadeira explosão com Luchador de Boedo. Aí pudemos ver como eles conseguem trabalhar com arranjos até que simples, mas que ganham intensidade na hora certa fazendo com que o público vibre e cante junto.
E não só cantar, teve bastante POGO (aquele movimento ritmado de se trombar respeitosamente com o povo a sua volta) e também uns malucos que eram levantados pelos colegas.
Resumindo, todo o necessário para a festa de rock alternativo do bairro.
São várias as músicas com letras fáceis de se lembrar e que soam bem demais ao vivo, como Montevideo, Rock and Roll Passo de Moda, Vamos a Destruir e a apoteótica Wagen del Pueblo.
Também há espaço para momentos mais calmos para apenas balançar a cabeça e cantar num tom mais leve, como nas belas El Amor Ya va a Llegar e Un Gran Dia.
E, incrivelmente, a acústica do lugar colaborou tanto nas músicas mais leves como nas mais agitadas.
Quando o Bestia fala sobre coisas mundanas como um fuscão velho e brilhante, um lutador das quebradas, um jogador de futebol ou o cheiro de um assado eles nos divertem.
Mas eles também conseguem ir um pouco mais fundo em temas reflexivos sobre relacionamentos, perdas, decepções e várias outras dificuldades pelo caminho que temos que enfrentar. Só que sempre há uma mensagem de positividade, de que temos forças para seguir adiante e que tudo vai ficar bem, principalmente se não estivermos sozinhos.
E ficou bem claro nesse show que eles cantam e tocam com o coração e estão conquistando um público cada vez mais fiel.
Aguante la Bestia!



