Antes de tecer comentários parciais e empolgados sobre o show solo do Santiago Motorizado em Buenos Aires sinto uma necessidade de botar no papel minha história com os argentinos do El Mató. Sim, pois o senhor Santiago Motorizado é o vocalista e a alma do El Mato a Un Policia Motorizado, possivelmente a banda mais importante do rock alternativo dos nossos hermanos atualmente.
Faço isso não exatamente para os meus três assíduos leitores (por favor, sigam firmes me lendo a cada 4 meses), mas sim para mim mesmo. Um registro pessoal de como conheci, me encantei e virei basicamente um fã.
Reflito… o que é ser fã de uma banda? Acredito que ser fã não é ser um devoto, um fanático. Veja, eu jamais acamparia para pegar um bom lugar na frente do palco. E também não passo muito tempo escutando só a mesma banda, afinal tenho um impulso incontrolável de buscar coisas novas e consumir o que meu algoritmo do Spotify me oferece.
Ser fã é realmente se interessar pela banda. Escutar toda a discografia várias vezes, ler e interpretar as letras, recomendar para amigos, ver vídeos no youtube e ir em shows.
E se eu verificar o meu last.fm (sou um idoso, ainda tenho esse negócio registrando tudo o que eu ouço) e der uma espiada no meu ranking de bandas mais escutadas verei o El Mato em um honroso 7 lugar atualmente.
Ok e como eu conheci os caras?
Ali pelos idos de 2016 eu escutava Arcade Fire como se não houvesse amanhã. E estava tão deslumbrado com eles que decidi ir a um festival em Buenos Aires em que eles seriam os headliners. Curioso e ávido por descobrimentos que sou, fui escutando um pouco de cada banda do line-up.
Eis que me deparei com o peculiar nome El Mató a un policia motorizado. Botei no Spotify e apertei o play na música El Tesoro… e aí foi onde tudo começou. A melancolica doce, a repetição viciante e a voz cheia de uma emoção contida foram como um convite irrecusável para eu explorar essa banda. E foi o que eu fiz.
Depois desse festival vi o El Mato em São Paulo no Cinea Joia, no Luna Park em Buenos Aires e novamente em São Paulo no Primavera Sound (que festival, diga-se de passagem!). E acompanhei todos os lançamentos.
E um desses lançamentos (opa, cheguei no assunto do post) foi justamente o trabalho solo de Santiago, El Retorno. Uma pegada diferente do que ele faz na banda: mais acústica, mais nostalgica, mais leve e mais romântica.
Quando soube da turnê do álbum me empolguei. A data em Buenos Aireis cairia durante as minhas férias. Me pareceu uma oportunidade que não poderia desperdiçar. Animado, entrei no site para comprar os ingressos para o Gran Rex e logo tomei um balde de água fria.
Simplesmente não pude comprar por não ter o DNI, a identidade argentina.
Sacanagem…
E aí tentei algo ousado. Mandamos uma mensagem para o próprio Santiago no instagram falando que não deu para comprar os ingressos e pedindo para ele tocar no Brasil.
Eis que o homem responde e nos convida para ir no show em Buenos Aires. Ingressos na faixa! Claro, inicialmente achei estranho… mas quando a data se aproximou ele mandou mais uma mensagem para confirmar que iríamos, pegou nossos nomes e deu o próprio whats.
Não era golpe!
Com ingressos dados de presente pelo artista da noite estávamos sentados no elegante teatro Gran Rex esperando a cortina se abrir e o show começar.
E o Santiago não toca sozinho, não é? Fazem parte da banda também o Tom Quintans (tocando bateria) e o Chicho, ambos da excelente Bestia Bebe. E também o Pipe Quintans, do 107 faunos.
Um verdadeiro supergrupo do indie porteño.
E afinal, como foi o show (ou o espetáculo)?
Desde o início percebemos o quão afinada está a voz de Santiago e como essa banda está com a química perfeita. Cada um fazendo o seu com qualidade e deixando o Santiago brilhar. E como ele brilhou, nos oferecendo momentos inesquecíveis com as belas Jazmin Chino, Mil Derrotas e Oh Dana. Sem deixar de lado canções mais empolgantes como La Revolucion e Amor en El Cine.
Como o álbum foi lançado alguns meses antes do show deu para todo mundo ir preparado e cantar junto os refrães de Google Maps e El Gomoso, duas queridinhas da galera.
Entre as músicas ele conversa mais com o público e atualmente sem tanta timidez. Ele está se transformando em um artista cada vez mais completo e ciente de sua relevância no cenário musical da América Latina.
E isso ficou ainda mais evidente nos “covers” do próprio El Mato. Ele reinterpretando a El Tesoro apenas com voz e violão foi épico. Teve uma hora que juntando a voz dele, o violão suave e os efeitos hipnóticos de iluminação eu achei que estava vendo um portal para uma outra dimensão se abrindo diante de mim. El Tesoro, justamente a música que marcou o início do meu caminho para me tornar um entusiasta da banda.
E para finalizar, um toque genial: a música The End of The World (que conheci jogando fallout) tocando de fundo enquanto deixávamos o teatro quase que hipnotizados por podermos testemunhar uma noite épica para a música alternativa argentina.
Bravo, hermano!